quarta-feira, 17 de outubro de 2012

JOGA NO RIO - ARTIGO DO JORNALISTA PÚBLIO JOSÉ.


PÚBLIO JOSÉ

 Há tempos atrás, uma revista semanal registrou, numa matéria sobre a tendência do ser humano de causar poluição por onde anda, a naturalidade com que, em épocas imemoriais, as populações ribeirinhas descartavam lixo e produtos inservíveis pelo rio. Parece até que havia um ensinamento universal apontando para a única solução possível àquelas alturas: “joga no rio!”. Este era o brado que se fazia ouvir pelo mundo afora. Não passava pela cabeça de nenhum agrupamento humano de então que a manipulação do lixo fosse de sua responsabilidade. Desde cedo, portanto, o ser humano acostumou-se a passar para frente, a empurrar na direção dos outros, a solução de problemas criados pela sua rotina diária. Pouco importava se, jogando dejetos no rio aqui, problemas seriam criados para outras populações acolá. O negócio era limpar a sua área mesmo que sujando a dos outros. A realidade é que o homem desenvolveu-se através dos tempos em todas as áreas que se possa imaginar. Só não aprendeu o que fazer com o lixo. Ao que parece, a manipulação do lixo caiu naquela área da mente humana na qual a saída é fugir da responsabilidade e passar o pepino para os outros. Nada de encarar a questão de frente, de buscar solução para os problemas criados em comunidade. Por conta disso, o que se vê hoje, com raras exceções, é a quase totalidade dos rios morrendo, desfilando seus últimos instantes de vitalidade diante de uma sociedade que soube chegar à Lua, soube se globalizar, alcançar níveis nunca imaginados de desenvolvimento tecnológico, mas não sabe, lamentavelmente, se organizar em comunidade de maneira a não prejudicar a seara alheia. Tanto é que permanece, até hoje, o hábito de se desfazer de lixo e dejetos através da inércia e da passividade dos rios. No tocante ao homem de hoje, esse hábito desgraçado de não assumir responsabilidades, de não enfrentar suas próprias demandas, não se restringe apenas a degradar rios e nascentes de água. Impera em todas as atividades onde o homem põe a mão. Na política, por exemplo, este homem aparece por inteiro, pelas mazelas causadas à população, pela má administração do dinheiro público, pelas obras superfaturadas, pela corrução, pela roubalheira generalizada. E ele nem, nem. O país afogado num lodaçal sem fim e os acusados se dizendo inocentes – e empurrando o problema para o mais próximo. Ninguém tem a hombridade de dizer “este problema foi eu que criei e vou arcar com as suas conseqüências”. Não. Não aparece ninguém com esse topete. Aparece gente de montão para enganar, para se esquivar, para encontrar saídas e esgrimir evasivas na hora de apurar as responsabilidades e apontar culpados. Do mesmo modo que o homem de antigamente aprendeu a fazer do rio o desaguadouro natural de seus lixos e dejetos, o de hoje tornou-se mestre em transformar pessoas frágeis em verdadeiros rios, para onde são lançados seus mais abjetos projetos de interesse pessoal e carreados os dejetos mais desprezíveis do que é produzido em suas mentes. Aos mais fracos, enfim, são destinados, por essa gente sem escrúpulo, os sonhos mais egoístas e os feitos mais degradantes. Pois ao meter a mão no dinheiro público, prejudicando populações indefesas, se eximindo, além do mais, de encarar com seriedade o seu trabalho, o que estão fazendo os agentes públicos que agem assim, senão transformando em verdadeiros rios a massa humana que não pode se defender, que não pode protestar? “Joga no rio!”, parecem dizer, eternizando a irresponsável máxima de outrora. “Joga no riiiiiiiiiooooooooo!!!!” Trágico, né não?

  (publiojose@gmail.com)

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